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Mostrando postagens de abril, 2008

Dois volumes com a poesia de Florbela Espanca

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Referências sobre a vida de Florbela Espanca, acusam 1903, quando tinha só sete anos, a escrita de seu primeiro poema, "A vida e a morte". Desde o início é muito clara sua precocidade e preferência a temas mais escusos e melancólicos. O primeiro livro é organizado em 1916, quando Florbela reúne uma seleção de sua produção poética do ano anterior e o chama Trocando olhares ; na coletânea, 88 poemas e três contos. O caderno que deu origem ao projeto encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, contendo uma profusão de poemas, rabiscos e anotações que seriam mais tarde ponto de partida para duas antologias, onde os poemas já devidamente esclarecidos e emendados comporão o Livro de mágoas  e o Livro de Soror Saudade . O primeiro sai em 1919 e apesar da poeta não ser tão famosa, a pequena tiragem esgota muito rapidamente; quatro anos depois, o segundo que havia sido planejado para se chamar Livro do nosso amor ou claustro de quimeras . Em 1927, Florbela organiza os poemas q

Cantando na Chuva, de Gene Kelly e Stanley Donen

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Com a alegria do musical, filme enfoca a transição do cinema mudo para o falado Um astro do cinema mudo deixa sua namorada e aspirante a atriz em casa após uma noite feliz. Começa a chover. Ele não liga; apenas começa a cantar "Singin’ in the Rain" e começa a dançar. Chuta a enxurrada, gira agarrado ao poste, é advertido por um policial, sempre sorrindo. Uma das cenas de dança mais lembradas e imitadas do cinema só poderia está naquele que é considerado, de forma quase unânime, o maior musical de todos os tempos.  Cantando na Chuva  é a história de como Hollywood transitou do cinema mudo para o falado e as conseqüências técnicas e artísticas que a mudança representou. Don Lockwood (Gene Kelly) e Lina Lamont (Jean Hagen) formam a dupla de maior sucesso do seu tempo. A sorte deles começa a mudar com o inesperado sucesso de O cantor de jazz , em 1927, (que, de fato é, o primeiro filme sonoro). Obrigados a se adaptar às novas normas, eles tentam migrar para a sonor

Caio Fernando Abreu

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[1] Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você, ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e, se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que, no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Caio Fernando Abreu, O ovo apunhalado [2] Não existe volta para quem escolheu o esquerdo. Caio Fernando Abreu, Triângulo das Águas [3] Queria tanto poder usar a palavra voragem. Poder não, não quero poder nenhum, queria saber. Saber não, não quero saber nada, queria conseguir. Conseguir também não – sem esforço, é como eu queria. Queria sentir, tão dentro, tão fundo que quando ela, a palavra, viesse à tona, desviaria da razão e evitaria o intelecto para corromper o ar com seu som perverso. A-racional, abis

Eça de Queirós: Cenas da vida portuguesa

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Por Hélder Garmes e José Carlos Siqueira Eça de Queirós, 1893. Arquivo Fundação Eça de Queirós.  Em um artigo publicado na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro em 6 de dezembro de 1894, Eça de Queirós faz a seguinte projeção sobre a já então crescente migração de trabalhadores chineses pelo mundo: “Nas fábricas, nas minas, no serviço dos caminhos de ferro, não se verão senão homens de rabicho, silenciosos e destros, fazendo por metade do salário o dobro do serviço – e o operário europeu, eliminado, ou tem de morrer de fome, ou fazer revoluções, ou de forçar os estados a guerras com quatrocentos milhões de chineses. [...] Em cada centro industrial da Europa haverá assim um permanente e atroz conflito de raças”. Quando comparamos tais observações com as notícias que lemos diariamente nos jornais sobre os conflitos étnicos, não só Europa, mas em todos os cantos do mundo, resultantes, em sua quase maioria, da disputa pelo mercado de trabalho, constatamos que Eça não foi

Dez razões para amar "Jane Eyre", de Charlotte Brontë

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Cena de Jane Eyre , a adaptação do romance de Charlotte Brontë para o cinema Jane Eyre é um livro bastante subestimado. Sim, ele está aí nessa categoria, todos sabemos, mas também não por isso que podemos deixá-lo fora das nossas listas de leitura. Ainda mais porque, essa constatação sempre veio vestida de alguma ressalva; isto é, ainda que se diga que é um livro prescindível, sentimental e um pouco passado de moda, há quem afirma que esta é uma fama colhida pelo efeito depreciativo para com a escrita feminina. E não é só por isso; todos aqueles que leem a obra descobre nela um pequeno tesouro. Mas, há mais; por isso estas dez razoes para lê-lo: 1. Jane Eyre é agradável A personagem de Jane Eyre tem um carisma singular e podemos dizer que é uma das poucas personagens femininas do século XIX que alguém pode respeitar quando sua força cativante. Se você já está farto de mulheres insatisfeitas, frívolas, frágeis ou em busca (exclusivamente) de um amor ou de dinheiro, Jane

Sobre Octávio Paz

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Ensaísta, poeta, tradutor, escritor e diplomata – eis algumas das feições assumidas pelo mexicano Octávio Paz, também ganhador do Prêmio Nobel de Literatura, em 1990. Este feito o converteu no primeiro nome do seu país a receber o galardão. Esses elementos tornam-no o intelectual mais importante do século XX na América Latina. Ele nasceu em 31 de março de 1914 e viveu no México, onde escreveu uma potente obra que circula pelo mundo inteiro. A longa carreira literária de Paz começa ainda aos dezessete anos quando publica seus primeiros poemas na revista Barandal ; depois torna-se diretor dos periódicos Taller e Hijo pródigo . Seu primeiro livro, data do mesmo período da aparição dos primeiros textos na imprensa; foi a antologia Mar de día , publicada em 1931. Mas, apesar da intensa viviência para a poesia – sempre disse “sou poeta, antes de um intelectual ou um pensador” – não foi com este gênero que ficou reconhecido. Segundo os dados de sua biografia foi a partir do en

Oscar Wilde, poeta

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Por Jésus Munarriz O irlandês Oscar Wilde começou e terminou sua carreira literária como poeta. Se primeiro livro, com o sensível título de Poemas , foi publicado em 1881 quando tinha só vinte e sete anos, e o último, Balada do Cárcere de Reading , em 1898, dois anos antes de sua morte. Entre ambos, está o restante de sua obra: um romance, novelas, peças de teatro, os primeiros tateios e fracassos, o fulgurante deslumbramento do triunfo, o demolidor processo, a prisão, o exílio. Uma carreira meteórica cujo zênite dura apenas cinco anos, os que vão da publicação de O retrato de Dorian Gray , em 1891, à A importância de ser Ernesto (ou “de ser sério”: The importance of being Ernest ) em 1895, que é também o ano de seu processo. Nesses cinco anos, Wilde teve tudo e perdeu tudo.  E a poesia, sua primeira vocação, foi a que lhe permitiu expressar e condensar no fim de tudo as terríveis experiências pelas quais passou na sua queda. Depois de apresentar algumas composições em

Uma entrevista raríssima com Cora Coralina

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Conta um pouco da tua história... Quando cheguei na idade de casamento, de aspiração de um casamento, tive muito medo de ficar moça velha sem casar. Era o que havia nessa cidade, e eu me apeguei com Santo Antonio e Santo Antonio me mandou um paulista aqui, 22 anos mais velho do que, e eu me casei com ele. Casei-me em 1910, em 1911 ele quis voltar para São Paulo, eu fui com ele. E no Estado de São Paulo, eu vivi 45 anos da minha vida, encaixados, sem voltar a Goiás. E depois de 45 anos, de ter criado filhos e batizado netos, quis voltar para minha terra para viver a minha vida, e a minha vida é muito boa. Eu era uma jovem bobinha, criada entre 8 mulheres e quando me achei em São Paulo, sozinha ao lado dele, ele passou a ser para mim pai, irmão, tio e marido, porque afinal era 22 anos mais velho do que eu e eu uma bobinha, criada entre mulheres, e ele era homem lido e corrido.  Casei-me. Sonhei uma coisa e saiu a realidade muito diferente. O que você sonhou e o que

Literatura e viagem: dez livros fundamentais da literatura universal

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A ideia e o ato de viajar são responsáveis em grande parte pelo modo como amadurecemos na visão sobre a cultura, nossa e alheia; são também maneiras de repensar nosso lugar no mundo, de reinventar maneiras de ser e estar, de se relacionar com o espaço, de construir afetos ou desconstruí-los, formar conhecimento, aproximarmos melhor da história. E antes de ser ideia ou ato, talvez tenha sido uma das primeiras formas encontradas pelo homem de responder por uma das questões mais caras que nos acompanha desde sempre: de onde viemos e, para onde vamos. Não foi só um rito de sobrevivência; foi também uma inquietação de ordem filosófica cuja resposta por mais que se escreva e se rediga, nunca estará concluída. Como a literatura é um objeto não dissociado da existência, foi através dela que encontramos uma possibilidade de registro da viagem e também de criar outras formas de viajar, seja pelo nosso próprio interior, seja por lugares que só conseguiremos alcançar pela imaginação (grande