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Mostrando postagens de dezembro, 2009

Férias

“A denúncia de tudo quanto mutila a espécie humana e impede sua felicidade nasce da confiança no homem (...) Agora, quando se imagina que a ciência nos ajudou a vencer o terror do desconhecido na Natureza, somos escravos das pressões sociais que essa mesma ciência criou. Quando nos convidam a agir independentemente, pedimos modelos, sistemas, autoridades. Se quisermos verdadeiramente emancipar o homem do medo e da dor, então a denúncia do que hoje se chama razão e ciência é o melhor serviço que a razão pode prestar.” Max Horkheimer Ainda que tudo pareça um fim sem volta, há que se renovar sempre - é este o entendimento para o ano que se inicia. Feliz ano novo. Para baixar cartão, clica aqui

Os livros mais bacanas de 2009

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Por Pedro Fernandes No fim de ano são colocadas em pauta, de papel ou de mente, os feitos e os desfeitos do ano que termina e projetam-se novas possibilidades para o ano que se inicia. Tem sido sempre assim e escapar desse ciclo, me parece, é tarefa fadada ao fracasso. Em 2008, aderi à moda das listinhas e coloquei aquilo que a meu ver foram as grandes presenças que me marcaram. Como tudo é cíclico, cá estou de novo a apontar os feitos que me serviram para ser a pessoa que hoje sou. Limito-me aos livros. Li muito esse ano, creio que mais ainda que nos outros anos, e cito algumas obras geniais, por tudo que este termo abarque. Não é, portanto, esta lista, uma que vise destacar aqueles títulos publicados no ano, mas aqueles que li e deixo o registro em sintonia com a recomendação. 1.  Os sertões , de Euclides da Cunha: desde quando cursava o Ensino Médio que ouvia da professora de Língua Portuguesa que este, juntamente com a obra de Machado de Assis e de Guimarães Rosa (e não sei

Tudo sobre minha Mãe, de Pedro Almodóvar

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Em homenagem ao universo feminino, consagrado diretor espanhol fala de perdão e da relação entre pais e filhos As mulheres sempre ofereceram um pilar de sustentação ao cinema de Pedro Almodóvar: fortes, passionais, vingativas, elas são o veículo pelo qual o espanhol expõe seu humor exótico, os fetiches e desejos, as lembranças de infância. Talvez em nenhum outro momento elas tiveram maior destaque do que em Tudo sobre minha Mãe , obra da fase madura e melancólica, marcada por melodramas. O período teve início com A Flor do meu Segredo  (1995) e Carne Trêmula  (1997) e prosseguiu com o dolorido Fale com Ela  (2002), o sombrio Má Educação  (2004) e o recente Volver  (2006). Na trama, Almodóvar reúne um pouco de almas (femininas) desorientadas e tece um drama delicado sobre o relacionamento entre pais e filhos, a autodestruição (e a subseqüente volta por cima) e o perdão. Manuela (Cecilia Roth) leva seu filho Esteban (Eloy Azorín) para comemorar seus 17 anos assistindo a um

Manuel Rui, o verde e a janela de Sónia

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Por Pedro Fernandes Com o escritor Manuel Rui, em setembro de 2009, Salvador. 1. Essas notas ainda vêm do Congresso Internacional da Associação Brasileira de Professores de Literatura Portuguesa realizado em setembro deste ano em Salvador. Em ouras ocasiões falei sobre Maria Teresa Horta, sobre Cleonice Berardinelli e agora abro espaço para falar sobre a figura do angolano Manuel Rui, com quem tive o privilégio de conversar e ver o  lançamento de seu novo livro Janela de Sónia ,   o qual ainda infelizmente o tempo não me deixou ler, mesmo tendo já começado várias vezes, uma, quando ainda no avião de volta para casa. 2.  Manuel Rui é figura respeitadíssima na comunidade da literatura de língua de portuguesa. Foi o autor do Hino Nacional de Angola e como escritor autor de uma arrebatadora escrita que põe em questão a situação de África, de seu país de origem e de seu povo; pelo menos foi o que pude constatar nas sessenta primeiras páginas do Janela de Sónia  e na leitura de

Voltar a Caim

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Por Pedro Fernandes Na vitrine de uma livraria portuguesa, o novo romance de José Saramago. Foto: DN Artes. No Orkut há uma comunidade, das muitas dedicadas ao escritor português José Saramago, e da qual faço parte. Dificilmente apareço por lá em corpo de resposta ou de pergunta. Sempre passo de soslaio, leio superficialmente. Numa dessas minhas passagens, estava posto um questionamento acerca do recém lançado romance Caim. A pergunta era a clássica "o que você achou do livro". Das onze pessoas que já haviam respondido, havia alguns comentários consideráveis, bem pensados, outros somente a cumprir tabela. Fui tentado a ser o décimo segundo a entrar no diálogo, mais pelo fato de que um daqueles onze que haviam dado sua opinião - a grande maioria dizia ser este um livro ruim - ou, simplesmente consideravam o livro um lixo. Bem o que dizer de Caim ? Qualquer leitor saramaguiano que se preze verá que este não é um grande livro (se tomarmos textos como o próprio Ev

Palavras sobre Palavras de pedra e cal

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Por Pedro Fernandes Esta postagem inteira o leitor do Letras in.verso e re.verso sobre a publicação de  Palavras de pedra e cal. Como explicado noutra ocasião por aqui, trata-se de uma breve antologia que reúne todos os meus poemas publicados em diversas vias online e muitos em circulação nesse blog, o primeiro motivo de vê-los juntos num mesmo arquivo. O livreto amplia essa necessidade. E tomara que venha ganhar forma num material impresso, claro, ainda o instrumento de melhor realização de qualquer obra. É uma publicação gratuita, preparada com muito carinho e puro experimentalismo do autor, o responsável por todas as peças que integram a apresentação da antologia. Desde a capa, a concepção gráfica, a elaboração do blog, dos papéis de parede, dos vídeos. Palavras de pedra cal   assim apresentado deixa a critério do leitor o zelo em baixar, imprimir, ler, partilhar com outros leitores, mas com a cautela de citar sempre a fonte. É o mínimo de agrado. Também se o leitor tiv

Cleonice Berardinelli, aristocrata do espírito

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Por Pedro Fernandes Da esquerda para a direita, a primeira é Cleonice Berardinelli em fala durante do XXII Congresso Internacional da ABRAPLIP, Salvador, 2009. “Ela faz parte da aristocracia do espírito, essa que sim é necessária para a evolução da sociedade.” José Saramago Conheci a Professora Cleonice Berardinelli por ocasião dos dias gloriosos. Os dias do XXII Congresso Internacional da Associação de Professores de Literatura Portuguesa (ABRAPLIP) realizado em setembro deste ano. O registro que restou está nesta fotografia capturada do meu celular que ilustra este breve texto. É uma imagem à distância, num grande auditório repleto de estudantes e professores numa das ocasiões, acho, mais concorridas do evento. Outros encontros se seguiram entre intervalos de eventos, mas acredito que nessa altura a pouca coragem para o pedido de fotografias já estava gasta e o ficou está na memória e nestas linhas. Nos seus 93 anos de idade, Cleonice Berardinelli é, no Brasil, um

Palavras de pedra e cal

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Em comemoração aos dois anos do blog Letras in.verso e re.verso terá lugar neste espaço daqui a dois dias, ou seja, em 18 de dezembro de 2009, o lançamento virtual de  Palavras de pedra e cal , livreto do editor Pedro Fernandes. O horário marcado é 19h, quando os leitores e transeuntes virtuais desse espaço terão à sua disposição, para baixar e ler online, o material. A edição reúne todos os poemas publicados até agora na coluna Apenas meus poemas . "Trata-se de uma antologia bastante heterogênea, composta do que posso chamar de amostra de meu iniciante exercício poético. A publicação é mais uma alternativa de o autor poder ver juntos os poemas dispersos, sejam noutros sites, seja neste blog, seja em jornais ou edições avulsas." Para ter acesso a parte dos poemas que integram a antologia visite aqui. Para divulgação sobre esse acontecimento, foi criado o blog  Palavras de pedra e cal  que tem por objetivo servir ao lançamento do dia 18. É interesse que futurame

Estamos na merda e sobra pouco para afundarmos de vez

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  Por Pedro Fernandes Mira Schendel Uma dessas pesquisas dessas que existem para comprovar o já sabido constatou que o brasileiro lê pouco. Mas, lê tão pouco que foi mais fácil divulgar os números da catástrofe e não os números positivos: são 77 milhões de não-leitores, dos quais 21 milhões são analfabetos; os leitores somam 95 milhões, e leem, em média, 1,3 livro por ano. Incluídas as obras didáticas e pedagógicas, o número sobe para 4,7.  Os dados estão na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita com 5.012 pessoas em 311 municípios de todos os estados em 2007. Detalhes sobre hábitos do brasileiro relacionados ao livro, revelados na pesquisa, atestam esta afirmação. O levantamento considera como não-leitores aqueles que declararam não ter lido nenhum livro nos últimos três meses, ainda que tenha lido ocasionalmente ou em outros meses do ano. Tudo isso só vem explicar uma coisa: nosso nível cultural à beira do barbarismo gutural e a capacidade de percepção da moléstia que corrói

João do Rio

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No dia 24 de junho de 1921, o Rio de Janeiro acordou diante da seguinte notícia, glosada pelos principais jornais da cidade: "Uma notícia desoladoramente triste veiu surprehender, hotem, à noite, quantos trabalhavam nesta casa - o passamento de João Paulo Barreto, ou melhor 'João do Rio'" ( A Razão , 24 jun 1921). Quasi á meia-noite, uma telephonada annunciava-nos que Paulo Barreto, em caminho para casa, em um automóvel, se sentira mal e que fora conduzido a sede do 6º. districto policial, de onde já haviam chamado uma ambulância da Assistência Pública para socorrer o illustre enfermo; e três minutos depois, quando um de nossos companheiros descia  já as escadas para ir, de nossa parte, levar-lhe uma palavra de affetuoso conforto, outra telephonada tiniu a notícia de sua morte ( O Paiz , 24 jun 1921) Dois dias depois, outro evento superava em espetáculo e comoção a própria morte o conhecido jornalista - seu sepultamento: Das janelas da redação de A Pátria ,

José Saramago e a questão literatura e utilidade

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Por Pedro Fernandes Biblioteca particular de José Saramago em sua casa de Lanzarote. Escrevi certa vez um texto que foi publicado no caderno Domingo ,   do jornal De Fato acerca da tão instigante pergunta milenar, já milenar porque tem servido ao debate entre gente diversa desde que a literatura é literatura. Hoje, na releitura de algumas falas do escritor português José Saramago, eis que encontro com uma entrevista sua ao Clarín , em que a pergunta foi posta (a tradução para o português é livre) e cuja resposta vem corroborar com o que escrevi há alguns meses: "Como escritor, seu meio de intervenção é a literatura. Podemos voltar a pensar se serve para algo? Se a literatura pode melhorar (ou piorar) a vida, o mundo? Levamos séculos nos perguntando uns aos outros para que serve a literatura e o caso de que não exista resposta não desanimará aos futuros perguntadores. Não há resposta possível. Ou há infinitas: a literatura serve para entrar numa livraria e ficar em ca

Patton - Rebelde ou Herói?, de Franklin J. Schaffner

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Feito em tempos de guerra no Vietnã, filme acompanha a vida de um general que sintetiza as contradições da América O primeiro plano deste filme de Franklin J. Schaffner impressiona: a bandeira dos Estados Unidos toma quase toda a dimensão da tela larga do cinemascope, e, no cetro, surge o ator George C. Scott como o general George Patton. Ele declama um discurso brutal sobre a necessidade da guerra, incitando seus soldados à violência extrema e lembrando-lhes sobre a glória militar do país, "que jamais perdera uma guerra". Uma imagem oficial, em princípio, mas com a juventude norte-americana sendo massacrada no Vietnã, em 1970, seu conteúdo era, na verdade, irônico e amargo. Como outras, essa superprodução apresentava a guerra em grandes tomadas espetaculares ao mesmo tempo em que detalha a carnificina. Trata-se de uma obra que não trai a convenção das biografias, mantendo-se fiel ao seu protagonista e preferindo os grandes acontecimentos, mas o discurso do fil

Gastão Cruz, poeta e ensaísta

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Por Pedro Fernandes Som da linguagem Por vezes reaprendo o som inesquecível da linguagem Há muito desligadas formam frases instáveis as palavras Aos excessos do céu o silêncio as constelações caem vitimadas pelo eco da fala. — Gastão Cruz, em Câmpanula   Minha descoberta sobre o trabalho poético de Gastão Cruz se deveu ao contato com outra obra: a de Fiama Hasse Pais Brandão. Os dois foram casados e atuaram vivamente nas artes em Portugal. Estiveram, por exemplo, entre os fundadores do Grupo de Teatro de Letras, de quando eram estudantes na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; os dois estão entre os nomes principais do coletivo Poesia 61, que se tornaria um marco para a poesia da segunda metade do século XX.   Minha descoberta de Gastão Cruz foi logo dupla: o poeta autor da recente antologia editada no Brasil A moeda do tempo e outros poemas (Língua Geral, 2009) e o ensaísta que no dia 18 de setembro de 2009 subiu à tribuna do histórico prédio da primeira sede da Universida

Os escritores perante o racismo

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Por José Saramago Imagem: F. E. Dean.  Aí está o racismo, aqui estão os escritores. A questão parece bastante clara à simples vista: sendo o racismo uma expressão configuradora, e até agora inseparável, da espécie humana, com raízes tão antigas, provavelmente, como o dia em que se deu o primeiro encontro entre hominídeos ruivos e hominídeos negros; presumindo os escritores, por sua vez, de serem e merecerem ser os guias espirituais da nossa confusa humanidade, mesmo se, por ela lhes ter virado as costas, deixaram de estar em moda os  maître-à-penser  – a resposta a uma interpelação a eles dirigida seria, provavelmente, a redacção de um milésimo manifesto, de uma milésima condenação do racismo e da intolerância xenófoba, subscrita por todos os escritores deste nosso prolixo mundo, do primeiro ao último, se é que para eles também existe, algures, uma classificação por pontos, como a dos tenistas, que só precisa de olhar a tabela para saberem quanto valem. Desgraçada

Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood

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Reflexão madura e desencantada do universo dos velhos westerns  na visão de um de seus protagonistas Os Imperdoáveis  é um western  sobre o fim dos westerns . Talvez na última obra-prima do gênero eternizado por John Ford, Howard Hawks e Sergio Leone, Clint Eastwood maquinou, ao mesmo tempo, uma homenagem aos seus mestres (há dedicatórias a Leone e a Don Diegel), um crepúsculo do estilo e uma revisão dos aspectos morais do bom e velho bangue-bangue, da figura do cowboy  e do seu universo. Eastwood revisita também a própria carreira, que começou a se destacar na trilogia spaghetti  de Leone e se solidificou com a série Dirty Harry . Nela, ele geralmente vive um homem solitário, amargo, bêbado e violento a ponto de não perdoar ninguém. William Munny (interpretado pelo próprio Clint) teve um passado assim. Até que conheceu sua futura esposa, teve filhos e se tornou humilde criador de porcos. Agora viúvo, ele dedica-se a cuidar das crianças e a administrar sem muito sucesso

Um poema recortado do jornal Trabuco

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Por Pedro Fernandes O jornal Trabuco  fez parte do meu início nessa aventura da editoração. O periódico impresso tratou de reunir as atividades do universo literário do curso de Letras na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Dentre as colunas que formam as publicações uma que se chamava  Sarau era dedicada à produção poética. Em sua primeira edição lançada no início do mês de julho de 2008, incluímos dois exercícios literários meus: os poemas "Salvação" ( publicado aqui em 2007 ) e este outro, uma amostra dos textos incluídos no livro Sertanices.  Alberto Burri Previsões Minha avó costumava em certos meses do ano Pôr sobre a casa numa tabua morros de sal, Doze ao todo, os doze meses do ano: Janeiro. Fevereiro. Março. Abril. Maio. São João. Santana. Agosto. Setembro. Outubro. Novembro. Dezembro. No dia seguinte contava a quantidade do derreter E dessa quantidade via os meses chuvosos, Os menos e os mais, Também os meses secos – Estes, de San

Dez filmes mais um que contam sobre a vida de escritores

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Cena de A última estação Este ano os cinemas trouxeram para as telas A última estação , filme de Michael Hoffman sobre os últimos anos da vida de Liev Tolstói. Estamos no ano de 1910 em Yasnaia Poliana, a propriedade rural onde o escritor de  Guerra e paz  viveu boa parte de sua vida. O título conta os período em que Tolstói esteve envolvido em levar adiante organizar seus direitos e seus ideias trabalhados em Poliana. O filme traz ainda a relação desenvolvida entre Tolstói e Bulgákov, quem trabalhou como seu secretário particular nesse período e, claro, toca em pontos conturbados do casamento com Sofía que temia uma retaliação do companheiro em não lhe deixar sequer os direitos sobre a obra. Mas, depois de amarmos esse filme, fomos catar outros cujo tema é também a vida de escritores e deixamos essa listinha aos amigos leitores. Claro, há outros títulos que estarão a serviço de outra lista do gênero, se esta tiver a atenção merecida. Anti-herói americano , 2003. Dirigido pe