Miacontear - Mana Celulina, a esferográvida

Por Pedro Fernandes



O cenário em que transcorre as cenas desse conto me lembrou muito as terras 'sem lei' do sertão nordestino, não apenas pela fisicidade do espaço recuperado no início do texto - um curral - mas, principalmente pelo comportamento da personagem de Salomão Pronto e do desenvolvimento das ações. Salomão Pronto recupera ipsis literis a figura do coronel sertanejo, pelo poder de decisão que carrega - "Até o governador o convocava em caso de sérias gravidades" - como pelas atitudes que toma no correr da narrativa.

O fato é que a filha sua, Celulina, aparece grávida. O caso é de fazer o suposto pai, o vizinho Ervaristo Quase, confessar o delito. Novamente devo prestar atenção no nome dessas personagens. Salomão, pelo já comentado poder decisório que carrega, logo remete-nos à figura bíblica homônima e além do que, vem acompanhado pelo sobrenome Pronto, dando a ideia de acabamento, de sujeito centrado, de prontidão, apto a resolver qualquer embaraço.

Celulina, ao mesmo tempo que retoma a ideia de centro em torno do qual tudo se desenvolve, também aponta para um estado de pequenenez, de suposta inocência. Já Ervaristo Quase traz em si um certo estágio de iminência - quase sucumbe aos mandos do velho Salomão, quase pai. Sim, porque a suposta inocência de Celulina desfaz-se na última linha da narrativa, como se desfaz a ideia de que Ervaristo é pai do "invisível ser que ali se enrolava".

Comentários

Paulo Robert disse…
essa análise me ajudou muito, =)

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