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Mostrando postagens de novembro, 2011

Saramago, 1950

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Por Pedro Fernandes José Saramago em Azinhaga A Fundação José Saramago divulgou junto com esse momento de semifechamento de uma obra magna fotos colecionáveis para os que o têm, além da admiração pela obra, um apreço pela figura do autor de Ensaio sobre a cegueira . Os registros estão datados da década de 1950, apresentam o escritor muito antes de ser quem o conhecemos, na época quando   José Saramago ainda trilhava os primeiros gestos de escrita. Ao todo são dezesseis registros da época de quando escreveu o recém-lançado Claraboia , romance só agora publicado e ocasião que leva a FJS divulgá-los. O livro escrito foi escrito poucos anos depois de Terra do pecado , o título que passou desconhecido pelo seu tempo de publicação e que poderá ter levado ao engavetamento da obra agora trazida a lume. Saramago foi um escritor com uma vida marcada por golpes de sorte, como alguma vez terá ele próprio discorrido a respeito. Daqui, pensamos em alguns desses momentos e tudo deve come

Sigamos - 4 anos de Letras in.verso e re.verso

Não. Não passou despercebido. É verdade que tenho andado, ultimamente, às voltas com o tempo. Conduzindo dois cursos na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, à frente de um evento nacional, orientando alguns trabalhos e tentando me equilibrar numa corda bamba à cata de uma sustança maior e segura, as coisas por aqui têm andado a passos de tartaruga. Mas passar despercebido um instante como este, isso não, não é permitido. É que hoje, 27 de novembro, fecham-se 4 anos do blogue Letras in.verso e re.verso e entramos, logo, com uma sede lenta, para o 5º ano de web. Não há necessidade de repetir aqui – pela milésima vez – do sucesso que tem sido essa empreitada surgido como quem não quer nada naqueles fins de novembro de 2007 com a pretensa ideia de ser um espaço para divulgação e agregar materiais de um curso sobre a obra da poeta potiguar Auta de Souza. Não há necessidade de repetir porque as obras estão aí nos quatro cantos do blogue – é uma revista de poesia, um se

Um evento de conveniências

Por Pedro Fernandes Ano passado foi quando a comissão de cultura da Prefeitura de Natal rechaçou de vez o Encontro de Escritores de Natal para criar o Encontro de Escritores Portugueses. O evento ganha uma dimensão nacional, mas perde em programação. Resumindo-se a pequenas mesas em torno de temas pouco apetecíveis e num horário de vagabunda (para usar aqui de um termo que minha mãe diria em bom som). Essa é, entretanto, uma impressão que eu tive com expectador que não teve a oportunidade de participar do evento. Mas, nesse ano, que me inscrevi duas vezes (e a inscrição não chegou ao destino) tendo que me inscrever novamente no primeiro dia do evento, a impressão de expectador se confirma. Supondo que as coisas devem evoluir em alguma formação nas realizações subsequentes, era para a segunda edição do EEPLP ter sido, em relação à do ano passado, um estouro. Mas, o tiro saiu pela culatra. O que vi nesses dias de evento foram uma gleba de escritores de pouco expressão, m

Mudar para (re)estabelecer autonomia

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Por Pedro Fernandes Talvez não seja esse o interesse por debaixo do novo acordo ortográfico às portas de vir a ser a norma da vez para os usuários da língua portuguesa. Mas ao menos foi o que pude concluir depois da fala do professor Carlos Reis hoje, dia 24 de novembro, na conferência de abertura da segunda tarde do Encontro de Escritores de Língua Portuguesa (EEPLP) posto em andamento já desde ontem, 23 de novembro, na Academia Norte-rio-grandense de Letras. Não posso deixar de registrar, entretanto, que não entendi o porquê de um tema tão político e já decidido os seus rumos ainda poder ser motivo de fala e, ainda mais, fala dentro de um evento com escritores, sobre literatura. O Brasil como integrante primeiro da cúpula tem toda capacidade, disse o professor, pela dimensão territorial (e logo por ser o país que reúne a maior quantidade de usuários do português como língua materna) e pela boa posição internacional que hoje ocupa e deve ser o responsável por

Gainsbourg, o homem que amava mulheres, de Joann Sfar

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Por Pedro Fernandes Depois de Piaf, um hino amor , pode-se dizer que essa é a segunda peça mais interessante quando o assunto é cinebiografia de grandes compositores. Gainsbourg – o homem que amava as mulheres (subtítulo mal inserido) é uma grata surpresa a mim que só conhecia o francês ouvindo Je t’aime – não sem ficar um tanto ruborizado quando essa música explodia no ar. O crítico Nelson Motta aferiu como a melhor música para motel já feita no último século. Também pudera; Je t’aime não é bem música, mas um orgasmo musicado e daí meu rubor que vinha, obviamente, ao ouvi-la em companhia dos pudores familiares. Volto, antes de uma rápida leitura desse filme, ao subtítulo, o homem que amava mulheres para explicar o porquê da observação entre parêntesis, subtítulo mal inserido. É que, embora o filme permaneça à volta do Gainsbourg amante, afinal o compositor trouxe para seu harém, ninguém menos que Jane Birkin, Juliette Gréco e a divina Brigitte Bardot, o filme n

Andréa del Fuego

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Não é lugar-comum afirmar que o sucesso de um escritor - na maioria das vezes - vem tarde; tão tarde que - na maioria das vezes também - chega apenas depois de sua vida. Num país como Brasil, onde arte é sinônimo de vacância ou atividade paralela, ainda mais.  Mas, remando contra a maré, eis que vem, já de longa data, afinal esta autora, publicou seu primeiro trabalho há cerca de sete anos, Andréa del Fuego. A escritora de sobrenome adotado da bailarina, naturalista e feminista brasileira Luz del Fuego, de um tempo quando os jovens escritores adotavam nomes para se mostrarem imigrantes no mundo virtual dos blogs, é a recente ganhadora do Prêmio Literário José Saramago, instituído há sete anos e que tem dado relevância a autores em construção.  Andréa del Fuego é paulista e tem ainda uma curta obra. Nasceu em 1975. Mesmo nascente, como dirão uns, a sua obra já aponta algumas raízes temáticas e incursões bastante sólidas por alguns gêneros literários, dirão outros.  A obra

Sobre o III FLIPIPA

Por Pedro Fernandes Ano passado tive o privilégio de me instalar os três dias do evento, num albergue na Praia da Pipa, e aproveitar dia após dia a programação do Festival Literário da Pipa. Esse ano, pelo rol de atividades que estou a desempenhar nesse fim de mês – um encerramento de semestre, um início de outro na Universidade e ainda mais a coorganização do II Colóquio Nacional de Linguagem e Discurso – me fizeram está em total desestrutura temporal para cumprir com uma agenda de discussões sobre Literatura bastante extensa como foi a dessa terceira edição.  Mas, o senso de curiosidade, o espírito de aventura e-ou certa vontade de sair da mesmice urbana, levaram-me a última noite de sábado, 19 de novembro, à praia da Pipa. Fui, num bate-e-volta como se costuma chamar por aqui, até o III FLIPIPA ver de perto a estrutura nova do festival e passear ainda entre as mesas de Eucanaã Ferraz e Rubens Figueiredo. É verdade, que os convidados desse ano não foram estimulantes

Considerações do poema, considerações do poeta

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Por Pedro Fernandes Carlos Drummond de Andrade. Foto: Arquivo Folha de São Paulo “Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseja por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato  com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação.”  Estas foram as palavras de quem por longa data, a vida inteira, para ser mais preciso, dedicou-se ao fazer poético, atividade que certamente, e os livros e a crítica estão aí para provar isso, ultrapassou o sentido da outra função que veio a exercer a vida inteira também, a de funcionário público. Estas palavras foram as de Carlos Drummond de Andrade, poeta de alma e de ofício.  O que pretendo ver nestas suas palavras é o entendimento, ainda que breve, do poeta em diálogo para com a tradição e a constituição de seu talento no corpo desta tradição, entendendo que o p

José Saramago, os livros do meu afeto

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Por Pedro Fernandes A obra de José Saramago, como a de todo grande escritor, não permite leitores de meios termos. E quem se vê entre aqueles que logo se deixam seduzir pelo enredamento das suas narrativas cheias de labirintos dificilmente conseguirá se restringir a apenas um romance. Eu entrei nesse universo de complexas reentrâncias por uma das portas que se constitui recorrência na sua prosa romanesca: o acaso. E depois, nunca mais voltei a quem era antes; também nunca mais larguei. Foi numa tarde qualquer, há cinco anos, enquanto buscava por entre os labirintos de livros na biblioteca da universidade minha próxima leitura ou o escritor que pudesse me oferecer a centelha da curiosidade para me enredar pelos estudos literários, que encontrei com José Saramago. Na última divisa de uma das estantes ao fundo da biblioteca estava a edição de bolso publicada pela Companhia das Letras nesse mesmo ano de O evangelho segundo Jesus Cristo . Na época, seu autor era para mim u