Aliyah, de Élie Wajeman

Por Pedro Fernandes



Quem nunca terá sido tomado pela ideia do fracasso e que as coisas não se passam bem em determinado lugar e que o futuro é bem longe de tudo? Todos já terão, em algum momento das suas vidas, dito a singular frase de que gostaria mesmo de está numa ilha, onde não pudesse ser visto por ninguém, num total anonimato. O sentimento existencialista que, em sua boa parte, não provoca outra reação se não a de permanecer onde estamos e, o muito que fizermos, será ir a uma festa, ler um livro, ver um filme para supri-lo, ganha motivação quando, externamente, a sua situação não é tão desajustada quando o sentido de pertença. Noutros casos não há necessidade nenhuma de ter crise de pertença, é sim, a tal situação externa que lhe obriga uma tomada de rumo.

Em Aliyah, Élie Wajeman explora minuciosamente o último caso colocando em cena a personagem de Alex, um jovem parisiense de 27 anos que, sentindo-se inútil com a vida que leva, decide, depois de uma conversa com um primo, largar tudo para ir cuidar na parceria de abrir um restaurante, em Tel Aviv, Israel. Além de trocar um lugar estável por um em que o risco de morte e guerra é iminente pela zona de instabilidade vivida pelo país e sua relação com os vizinhos, Alex tem de provar sua independência do irmão mais velho e da ‘vida fácil’ de traficar drogas nos bares de Paris.

A determinação inclui juntar em tempo recorde 15 000 euros, registrar-se como judeu, acertar as contas com esse irmão mais velho que vive às suas custas, aprender hebraico e, resolver um incidente amoroso que se põe no meio do caminho e pode ter a força maior para convencê-lo de que o melhor lugar é sim onde já vive e não fora dali.



O filme é uma tentativa acertada para repensar a ideia de pertencimento. Somos todos confrontados com a necessidade de sair do mesmo lugar e, não importa o que está no meio do trajeto de transcendência, quando queremos aquilo que queremos, tudo deixa de ser possibilidade para ser verdade. Parece que deixamos há muito a ideia de que temos nossas raízes fixas e, seja o que essas fugas representem, no atual contexto, elas são realmente necessárias para que estejamos sempre crentes de que estamos vivos.

Além disso, o jovem Alex é fruto também de uma geração desacreditada nos princípios que forjaram seu país natal. Os que se opõem à sua partida, como a jovem que se dispõe a dar aulas de línguas e que lhe foi um amor do passado, é personagem-metonímia para a relação que os países europeus, como a França, têm em relação os chamados países do círculo do Oriente Médio. A crença de que os que foram não deram certo ou mesmo a ideia preestabelecida de guerra iminente quer situar a França e o círculo europeu como lugar ideal de se viver e a reprovação do fechamento e do modo de viver social, cultural e político adotado pelos países do Oriente.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Boletim Letras 360º #576

O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk

Boletim Letras 360º #575

Boletim Letras 360º #570

Boletim Letras 360º #574

Dalton por Dalton