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Mostrando postagens de abril, 2013

o nosso reino, de valter hugo mãe

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Por Pedro Fernandes Edição brasileira de o nosso reino - romance de estreia de Valter Hugo Mãe O livro chegou ao Brasil depois de o remorso de baltazar serapião . Mas, é o primeiro na tábua bibliográfica do escritor, que antes, só havia trilhado pelo território dos livros infantis e com a poesia, formas que – acredito – não serão abandonadas no correr da obra ou mesmo são retrabalhadas  no âmbito do projeto ficcional que designamos como romanesco . Aliás, foi com o último gênero que valter hugo mãe – que até bem pouco tempo preferiu se assinar assim numa referência ao conjunto inicial de sua obra, integralmente grafada com minúsculas – chegou ao Brasil. Muito antes de chegar às duas grandes editoras que o levaram a ser popular por aqui, já circulava uma antologia desenhada para a Thesaurus Editora com o título de mil e setenta e um poemas e outra, com recolha de poemas seus editados em Portugal, publicada pela Oficinal Raquel, Portugal, 0 , livros que certamente não estão na

Roberto Bolaño

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Roberto Bolaño tornou-se indispensável na já extensa bibliografia de escritores latino-americanos necessários de ler; o fato é que isso é novidade. Até sua obra se tornar Cult, o caminho terá sido muito longo, como foi para muitos dos grandes escritores. Por exemplo, o escritor sempre se definiu como poeta e foi na poesia que começou a sua escrita, mas depois teve que debandar para a prosa e foi na prosa que ele se tornou reconhecido.  Agora, não é caso, ainda, de que o chileno seja incluído nesse rol dos grandes; isso, ainda há de se passar um bom tempo para ter uma confirmação. O que vai se confirmando, entretanto, pelo culto em torno do escritor, ou melhor, antes do culto, é o fato de que Bolaño é peça fundamental para um novo lugar para a literatura produzida na América Latina, que desde o boom literário na década de 1960, foi se tornando clichê pelo lugar comum do maravilhoso como experiência estética. 2666 , um dos seus romances mais próximos do público de língua portugue

Boletim Letras 360º #10

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Primeira cena da adaptação de O homem duplicado , romance de José Saramago, para o cinema. Ainda sem data de estreia, mas vê-se a produção de vento em popa. O décimo número do nosso Boletim Letras 360º está recheado de novidades: pelo Brasil pipocam os eventos literários – feiras, festivais, encontros; fora do país também. Esta semana foi marcada por isso. A nossa primeira dezena de notas quer lembrar também da promoção que está aberta até o próximo dia 8 de maio, portanto, menos de quinze para inscrições. Enfim, vamos ver o que se passou pela fan page dessa semana? Segunda-feira, 22/04 >>> Brasil: Inéditos de Hilda Hilst Uma visita da equipe do caderno Ilustrada do Jornal Folha de São Paulo a Casa do Sol, onde a escritora viveu boa parte de sua vida, revelou que, nos últimos meses, foram localizados ali um livro infantil, poemas, desenhos e textos em prosa, material inédito suficiente para ao menos quatro novos livros. Quando estes livros poderão ser pub

O valor super-histórico da literatura

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Por Pedro Fernandes © Ada Thilen Num outro texto que publiquei por aqui, “A necessidade humana de expressão artística” ( aqui a primeira parte, e aqui a segunda)* eu partia da observação de que a Arte é inerente e necessária ao ser humano ao ver que ela comporta-se como algo comum às diversas épocas e culturas. Entendendo a necessidade artística como instinto e logo este também como condição humana eu apontava por trás dessa afirmativa outra coordenada, a de que a Arte reflete diretamente as condições históricas e sociais em que foi produzida. É sobre isso que pretendo comentar agora, dando ênfase a Literatura, porque pelo corpo das grandes obras literárias se é possível absorver vultos ou por que não o espírito da história e da sociedade no momento em que foram produzidas. Ao entender que as condições históricas e sociais são também condições inerentes ao ser humano, então como ler Vidas secas , de Graciliano Ramos e não perceber o caudal de tais questões aí impressas? C

3 animações mais 1 a partir de textos literários

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1 + 1 - Kashtanka, de Anton Tchekhov Kashtanka pelas mãos de Mikhail Tsekhanovsky Anton Tchekhov é uma verdadeira escola do conto contemporâneo. Muitos escritores, até a aparição de seus trabalhos tinham nos moldes de um Edgar Allan Poe, por exemplo, sua “fonte de inspiração”. O escritor, profundo observador e conhecedor das fraquezas humanas e dos males sociais, conseguiu transpor para o fio da palavra, todas elas e mais um pouco com uma sutileza sem, contudo, ser levado pelo aguado melodrama. Sutilezas que deixam gerar um alto limite de tensão, mas sem que tudo se quebre ou desça ladeira abaixo. Se isso foi, noutras palavras, o que buscaram tanto os contistas, por essas breves constatações, vê-se que estamos, sim, diante de um mestre no gênero. Agora, não quer isso dizer que o autor não tenha produzido matérias que estão para o drama humano; não. Um desses trabalhos é o conto “Kashtanka”. Tratado por alguns como um conto infantojuvenil, o texto foi publicado pela prim

O mestre, de Paul Thomas Anderson

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Por Pedro Fernandes Tive de revisar reiteradamente uma opinião que se formava enquanto eu via O mestre : não é este um filme injustiçado tal e qual andaram pintando certos lances da crítica cinematográfica. Ou mesmo alimentando uma pergunta: o que tem nesse filme que faz dele um trabalho quase esquecido no âmbito da Academia de Cinema? Dos três prêmios que concorria no Oscar 2013 – Melhor Ator, Ator Coadjuvante, e Atriz Coadjuvante – o filme de Paul Thomas Anderson não levou nenhum. O fato é que minha opinião não se altera diante da pergunta e da constatação dos não prêmios. Não houve injustiças. Pelo menos na minha reduzida visão. Isso não quer dizer que o filme se perca ou não seja coisa de se dar atenção. Do contrário. Trata-se de um rico trabalho que merece – a quem tiver oportunidade – uma revisão; há determinadas nuances que passam despercebidas a uma primeira visão. O contexto da narrativa é  o surgimento num Estados Unidos de indivíduos solapados pela guerra de uma

Por que ler?

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1. Ao confeccionar frases pela leitura para a página do blog Letras in.verso e re.verso para o Facebook ( o álbum com todas as publicações pode ser acessado diretamente aqui – a arte não é minha, adianto) dei-me conta que, antes de qualquer coisa, num mundo cujo os pequenos gestos estão cada vez mais caindo em desuso, reafirmo o que já disse outras vezes: ler, como um desses atos simples, é um ato revolucionário. A sede de hoje é pela escrita; todo aspirante a leitor quer ser um escritor e, 99,9% deste todo, perde-se porque esquece que antes de chegar ao segundo patamar tem de construir o primeiro com bastante primor. Não é suficiente apenas ser um construtor de trocadilhos, ter boas ideias ou mesmo ser Best-Seller. As listas de mais vendidos estão aí para comprovar que todas essas possibilidades falham diante da responsabilidade que é o manejo da escrita. A estes, não há recomendações que não comecem pela máxima: leia mais. A necessidade da leitura é ainda maior quando

Reivindicar as mulheres da Geração Beat

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Por Noel Ceballos Kirsten Dunst vive Carolyn Cassady, uma das mulheres que acompanharam Kerouac e amigos em On the road Escrita em três semanas dentro de um asfixiante apartamento em Manhattan, On the road sempre teve mais um tom poético que o de uma crônica sobre o presente a que se refere. Jack Kerouac se baseou em suas próprias experiências da juventude, terminou o manuscrito (um único rolo datilografado, sem parágrafos nem margens) em 1951 e passou seis anos mais negociando as condições de sua publicação. De modo que, quando veio a lume em 1957, o romance já falava de um zeitgeist cultural perdido, de uma Arcádia irrecuperável, e seu êxito editorial despojou Kerouac de sua valiosíssima condição de outsider . Em outras palavras: On the road é o melhor compêndio desse furacão de boemia, jazz, drogas e poesia que conhecemos como Geração Beat, mas também foi seu corolário. Com Diários de motocicleta (2004), Walter Salles já narrou as viagens de um ícone da contracult