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Mostrando postagens de junho 20, 2014

Bolítica

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Por Décio Pignatari Há dez anos atrás, no começo da primavera, atravessei a Mancha rumo à Inglaterra, em companhia de um inglês e um israelense. Este lutara contra os nazistas, no exército de sua majestade britânica, e perdera as duas pernas dando combate aos árabes, nas lutas pela independência de seu país. Não era judeu – era israelense, fazia questão de frisar, mostrando um certo orgulho e uma certa irritação na necessidade que sentia de afirmar sua nova nacionalidade. O outro era um operário de volta das férias, velho e bem humorado militante do Partido Comunista inglês. Com não menor orgulho, exibia sua carteira de filiação, datada de 1935. No meio da travessia, a barcaça começou a jogar; o israelense não podia manter-se de pé, no convés: penoso demais. Ajudamo-lo a descer para o bar, com as suas três pernas mecânicas (uma sobressalente que carregava numa caixa) e voltamos para cima, o inglês e eu, rumo a um estranho bate-papo, entre solavancos

Narrador em amadurecimento

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Por André Albert* Até agora, os quatro romances de Chico Buarque: Leite derramado , Benjamim , Estorvo  e Budapeste . Chico Buarque é compositor ou é escritor. Nunca os dois ao mesmo tempo. Cada livro novo é uma imersão numa rotina metódica. O confortável apartamento do Leblon, com uma magnífica vista que vai do Arpoador até Niterói, é trocado por outro, mais espartano, no andar de baixo. Lá é o retiro onde o escritor assenta os pensamentos que surgem em longas caminhadas pela cidade. Andarilho como quase todos os protagonistas de seus livros, Chico tem suas melhores ideias enquanto caminha pelas ruas cariocas ou de Paris, onde mantém uma segunda residência e para onde foge se é preciso apressar o passo da escrita. o final da tarde é o momento em que se senta para escrever. A atividade, às vezes, adentra a madrugada, num lento exercício de lapidação. Na opinião do amigo e também escritor Eric Nepomuceno, “uma espécie de Penélope que desfaz hoje o feito ontem, não à e