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Mostrando postagens de junho 23, 2014

O mendigo Sexta-feira jogando no Mundial

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Por Mia Couto Lhe concordo, doutor: sou eu que invento minhas doenças. Mas, eu, velho e sozinho, o que posso fazer? Estar doente é minha única maneira de provar que estou vivo. É por isso que freqüento o hospital, vezes e vezes, a exibir minhas maleitas. Só nesses momentos, doutor, eu sou atendido. Mal atendido, quase sempre. Mas nessa infinita fila de espera, me vem a ilusão de me vizinhar do mundo. Os doentes são minha família, o hospital é o meu tecto e o senhor é o meu pai, pai de todos meus pais. Desta feita, porém, é diferente. Pois eu, de nome posto de Sexta-Feira, me apresento hoje com séria e verídica queixa. Venho para aqui todo desclaviculado, uma pancada quase me desombrou. Aconteceu quando assistia jogo do Mundial de Futebol. Desde há um tempo, ando a espreitar na montra** do Dubai Shoping, ali na esquina da Avenida Direita. É uma loja de tevês, deixam aquilo ligado na montra para os pagantes contraírem ganas de comprar. Sento-meno passeio, tenho meu lugar c

Nenhuma vida, de Urbano Tavares Rodrigues

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Por Pedro Belo Clara O escritor Urbano Tavares Rodrigues Nesta nova edição, retoma-se a debate sobre os trabalhos do autor referido em epígrafe com o intuito de dar a conhecer aquele que foi o seu derradeiro romance, concluído apenas poucas semanas antes da sua morte, em Agosto de 2013. Editado em Outubro passado, e com a particularidade de possuir um fac-símile fragmentado do original escrito pela mão de Urbano Tavares Rodrigues, Nenhuma vida é, nas palavras do próprio autor, um “romance breve ”  que, em quatorze capítulos, consegue ser transversal às principais ideias e temas defendidos por Urbano ao longo da sua existência terrena. Como obra, digamos, de “fim de vida”, e conhecendo o autor como a grande maioria do público português o conheceu, nada mais para além disso se poderia imaginar. Embora, sublinhe-se, em Urbano coabitavam pacificamente as linhas, firmemente desenhadas, de um pensamento nítido e interventivo com a gentil brandura de um trato - aparentemente